A1 Sport, DS3 e Punto T-Jet: hot hatches do momento Novidades da Audi, Citroën e Fiat aquecem um segmento quase esquecido por aqui
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É
dura a vida de quem gosta de carros esportivos no Brasil. Não bastasse a
escassez de opções, nos últimos anos choramos a perda de alguns dos
melhores representantes da estirpe, como VW Golf GTI e Honda Civic Si.
Quem procurava um modelo apimentado de verdade, ultimamente, era
obrigado a buscar algo na tabela dos importados mais caros. Mas nem tudo
está perdido, meu amigo. Veja só o trio que a gente reuniu aqui para
cantar pneu junto: novo Audi A1 Sport, Citroën DS3 e o reestilizado Fiat Punto T-Jet.
Legítimos hot hatches, também conhecidos na Europa como pocket rockets
(algo como foguetes de bolso), pelo tamanho compacto e temperamento
nervoso. Qual deles entrega mais diversão pelo seu dinheiro?
Antes de mais nada, é preciso dizer que não se trata de um comparativo tradicional. Afinal, com o preço do A1 dá para levar dois T-Jet
para casa. A versão esportiva do alemãozinho estreia a partir de
salgados R$ 109.900 – e isso não inclui o ar digital, o teto solar
panorâmico e nem o sistema de som da Bose que estavam na unidade
testada. Com eles, essa pequena joia passa dos R$ 130 mil. É um valor
bem acima dos R$ 79.900 pedidos pela Citroën no DS3 francês (o único opcional é o banco de couro com aquecimento, que eleva a conta para R$ 83.990). Por fim, o T-Jet, produzido em Betim (MG), chega revigorado na linha Punto 2013.
Além mudança visual e no interior, a versão foi a única a receber
novidade técnica (o seletor DNA, sobre o qual falaremos mais adiante) e
ainda teve o preço reduzido: R$ 55.740, lembrando que o T-Jet nasceu em 2009 por R$ 59.500.
Se os preços são bem diversos, na mecânica existem algumas coincidências. Punto e A1 usam motor 1.4 16V (o DS3 vai
de 1.6 16V), enquanto Audi e Citroën trazem injeção direta. E os três
são turbinados. Mas o compacto germânico vai além. A versão Sport traz, além do turbo do A1 comum,
um compressor tipo roots para melhorar a pegada em baixas rotações.
Funciona assim: de 2.400 a 3.500 rpm, o compressor (ativado por um
sistema de embreagem magnética) se encarrega de enviar ar extra para a
combustão, gerando maior quantidade de gases de escape para "acordar" o
turbo. Daí em diante, o turbo assume exclusivamente a tarefa de
pressurizar o motor. Esse pacote tecnológico garante um rendimento
superior ao A1, com 185 cv e 25,4 kgfm de torque. O DS3 exibe 165 cv e 24,5 kgfm, e o Punto, 152 cv e 21,1 kgfm.
"Mas
nem 200 cv?", você pode me perguntar. Bom, não se esqueça que estamos
falando de hatches que pesam, no máximo, 1.263 kg – como é o caso do
Fiat. Ou seja, temos de nos concentrar no que realmente interessa, a
relação peso x potência. E aí surgem valores animadores: 6,4 kg/cv no A1, 7,0 kg/cv no DS3 e 8,3 kg/cv no Punto.
Audi A1: quase um S1
O
preço indigesto do Audi começa a se justificar na tecnologia. Além do
motor sobrealimentado por duas fontes (compressor e turbo), o A1 também
é o único a vir com câmbio de dupla embreagem e sete marchas. Afora as
trocas mais rápidas que nas transmissões manuais dos outros dois (de
seis marchas no DS3 e cinco no Punto),
a transmissão S-Tronic oferece borboletas no volante. É animador
perceber que quase não há interrupção de torque nas mudanças, e que você
pode reduzir "em cima" das curvas sem tirar a mão da direção – ainda
com direito a um "punta tacco" automático. É do A1
também o acerto mais "kart" dos três. A suspensão ficou tão firme que,
se você entrar forte numa curva mais fechada, o hatch vai levantar a
“patinha” traseira oposta. Isso mesmo, curva em três rodas, sem quase
balançar a carroceria!
O
trio vem com rodas aro 17, mas são do Audi os pneus de perfil mais
agressivo (215/40 contra 205/45 do Citroën e 205/50 do Fiat). Isso sem
falar que o A1 Sport foi ajustado para não escorregar
tanto de frente. Numa sinuosa estrada fechada que a gente levou os
carros, o Audi mostrou ser o mais focado em “handling”. Aponte a
dianteira na curva e, no limite, ele vai saindo de lado, permitindo que a
gente continue a acelerar. Junte a isso uma direção muito bem acertada
(leve, direta e comunicativa) e temos uma tarde cheia de alegrias. Para
completar, os freios também se mostraram eficientes – embora o DS3 tenha conseguido parar em menos espaço.
Nos testes de desempenho, como era esperado, o A1 saiu na frente do francês e do “italiano”. Apesar de não ter o controle de largada de outros Audis (uma falta sentida), o Sport se vale do torque elevado logo na saída para furar a barreira dos 100 km/h em 7,2 s – o DS3 vem próximo com 7,7 s e o Punto perde um pouco de contato, chegando lá em 9,5 s. O A1 tem
a aceleração mais progressiva, sem que se perceba tanto a "entrada" do
turbo, algo bem nítido nos outros dois. Comentar os tempos de retomada
chega a ser covardia, uma vez que o câmbio do Audi reduz as marchas
automaticamente quando se pisa fundo – enquanto os manuais têm de
recuperar o fôlego só na força do motor, em uma marcha fixa.
Citroën DS3: França ataca
Por trás da fachada lúdica do DS3
está um conjunto muito bom de acelerar. Fama de fazer carro bom de
curva a Citroën já tinha, faltava era motor. Não falta mais: fruto da
parceria entre a PSA e a BMW, o bloco 1.6 THP do DS3 é basicamente o mesmo que está sob o capô do Mini Cooper S e do BMW 118i.
O câmbio também não deixa por menos: seis marchas bem escalonadas,
engates curtinhos (ainda que um pouco duros às vezes) e manopla de boa
pegada. Vamos acelerar!
Ao contrário do A1, o DS3
requer certo giro nas saídas para mostrar a que veio. Ainda que o
torque máximo esteja disponível a 1.400 rpm, abaixo disso o francesinho
demora a reagir. Sabe aquela saída de lombada em baixa velocidade
seguida de uma subidinha? Ele vai pedir 1ª marcha. Depois das 2.500 rpm,
porém, esse sintoma desaparece e o Citroën "enche" bonito até 6 mil
giros (só falta um ronco mais bravo). Ele parece ter o maior fôlego em
altas rotações, ajudado pela função overboost, que eleva a pressão do
turbo de 0,8 para 1,6 bar (o torque chega a 26 kgfm), a partir da
terceira marcha. "Achei que anda mais que o A1",
comentou o fotógrafo Fabio Aro. Não anda, mas parece, porque o motor
muda de "chocho" em baixa para muito esperto em alta. O Audi, ajudado
pelo compressor, tem uma resposta mais linear.
Chega o trecho de curvas e o DS3 exibe equilíbrio. Ele não é tão rígido quanto o A1,
mas tem um "jogo" de suspensão bastante previsível. Você percebe que o
hatch inclina mais que o Audi e deixa a frente baixar nas frenagens, mas
seus movimentos são controlados facilmente. A tendência de sair de
frente é mais acentuada que no A1, mas ainda assim não
arruína a diversão. E a traseira dificilmente sai do rumo, mesmo quando
aliviamos o acelerador no meio da tangente. Só que o ESP do Citroën é
bastante intrusivo, e logo corta o barato – para quem tem experiência, o
melhor é desligá-lo. A direção parece um pouco leve em velocidade (os
rivais são mais pesados), mas é questão de costume, porque a relação é
bem direta.
A suposta maciez da suspensão se converte em maior conforto. Para o dia a dia, o DS3
é o melhor companheiro, sem dúvida. Ele até dá umas pancadas secas nos
buracos mais fundos, mas, no geral, é o que transmite menos as
imperfeições aos ocupantes. Só que aqui cabe uma ressalva: a suspensão
do carro avaliado agora, com pouco mais de 6 mil km, estava bem mais
barulhenta do que a do primeiro DS3 testado por Autoesporte, uma unidade praticamente 0 km.
Outra coisa que incomoda no Citroën é o CD player pré-histórico, do tempo que o primeiro C3 chegou ao Brasil – só ganhou entrada USB. O C3 de nova geração e o Aircross
usam um sistema bem mais moderno, da Pioneer, com recepção de som muito
melhor que a do esportivo. Eu tentaria fazer a troca do aparelho já na
concessionária. Mas se estou reclamando do som, é porque no restante o DS3 manda
bem. "O carro é animal, eu esperava menos", encerra o Fabio, fã
incondicional de esportivos alemães e japoneses. Se o cara que tem um Honda Civic VTi (lembra dele?) está dizendo, não sou eu quem vai discordar.
Punto T-Jet: DNA alterado
Confesso que temi pelo futuro do T-Jet quando a Fiat começou a testar o Punto reestilizado no Brasil. Preço elevado, vendas fracas, versão Sporting
agora com motor 1.8 16V de 132 cv... Tudo conspirava contra o modelo
turbinado. Mas eis que a marca me surpreende e foca a estratégia de
lançamento do Punto 2013 logo no... T-Jet! Pausa para palmas.
O
esportivo foi o que mais ganhou pontos na reforma visual. Lembra
daquelas coberturas de caixas de roda pretas, que pareciam de versão
Adventure? Ficaram no passado. A frente carregada com um aplique no
para-choque me pareceu exagerada nos demais Puntos, mas no T-Jet caiu
bem, lhe confere cara de mau. As novas rodas aro 17 também trazem um
desenho belíssimo, enquanto as lanternas de leds ficam muito elegantes à
noite. O Punto turbo foi o único a trazer uma novidade
técnica, o seletor DNA (Dinâmico, Normal e Autonomia). Trata-se de uma
chavinha ao lado do câmbio que altera a relação de trabalho entre o
acelerador e a borboleta, mudando perceptivelmente a resposta do hatch.
Deixe em Dinâmico e o pedal da direita fica sensível como o de uma Ferrari
– OK, eu exagerei para dar ênfase. É preciso até certa adaptação para
não dar trancos nas saídas e na troca para segunda marcha. No modo
normal o acelerador volta a agir de forma... normal. Mude para Autonomia
e as respostas ficam mais mansas, privilegiando a economia. Aliás, está
aí uma coisa bem bacana desses hatches esportivos. Como eles têm
motores pequenos, o consumo pode ser quase de um carro popular – vai
depender do seu pé. Sério: na cidade, o Punto fez 9,5 km/l, o A1 10,1 km/h e o DS3 10,9
km/l. Na estrada, as médias passaram a 12,9 km/l, 14,3 km/l e 15,2
km/l, respectivamente – lembrando que todos só bebem gasolina.
O DNA não chega a mudar o desempenho do T-Jet,
mas deixar o seletor no ajuste Dinâmico faz bem ao ego. Assim, o motor
enche mais rápido e dá menos espaço ao turbo lag (o retardo de resposta
da turbina) que aparece nesse Punto em rotações iniciais. O Fiat é um
bom brinquedo urbano, uma vez que o turbo compacto é mais presente em
giros baixos e médios (de 2 mil a 4.500 rpm) do que em altos, e deixa o
carro bem esperto no trânsito.
Explorar as faixas mais elevadas do conta-giros, no entanto, mostra que o pique do 1.4 arrefece um pouco – ao contrário do DS3,
que vai ficando melhor conforme o giro sobe. Por falar em conta-giros,
isso me lembra que a Fiat mudou o grafismo dos instrumentos. Ficou legal
a nova escala com os ponteiros para baixo quando o motor está desligado
(estilo Ferrari e Alfa Romeo), mas sobrou tanto espaço no velocímetro
que os números vão até 270 km/h! Conta outra, né, Fiat? O Punto chega ao clímax a 203 km/h, enquanto DS3 tem máxima de 214 km/h e o Audi vai até 227 km/h, segundo os fabricantes.
O novo interior deixou o Punto com aspecto mais bem acabado. A faixa que atravessa o painel continua da cor da carroceria no T-Jet (no DS3 também),
com o acréscimo de um feixe de leds à frente do passageiro. Mas a Fiat
perdeu a chance de trocar a manopla do câmbio, um tanto grande e
desajeitada (é meio quadrada, ruim de segurar). E ainda acho o curso da
alavanca um pouco longo para uma tocada mais esportiva.
Descer do DS3 e entrar no Punto me faz sentir falta da sexta marcha (que existe no Punto Abarth
italiano). Do jeito que está, o Fiat é barulhento em velocidades de
viagem, além de consumir mais. Para se ter ideia, o Citroën trabalha em
2.500 rpm a 120 km/h em sexta, contra 3.300 rpm do T-Jet em
quinta. Outra economia aparente está no jogo de pneus. Os Pirelli P6000
do carro avaliado não combinam com versão esportiva. O Punto bem que merecia um jogo Michelin Pilot Sport como o oferecido para o Bravo T-Jet, ainda que vendido como opcional.
Isso ajudaria a diminuir a "lixada" que o Punto
dá nas saídas de curva com o acelerador a pleno, característica que
obriga o motorista a aliviar o acelerador para não alargar demais a
trajetória. Como aqui não tem ESP (que DS3 e A1
trazem de série), o Fiat é o que perde tração mais facilmente. Já a
suspensão bem firme contém com precisão os movimentos da carroceria, ao
passo que a direção calibrada para andar veloz (a mais pesada do trio)
tem tudo a ver com o T-Jet. Para completar, o volante grosso e de base reta poderia estar até num modelo mais potente que ainda faria bonito.
Conclusão
Cada
um tem condições de agradar a quem procura algo mais do que um visual
agressivo. Na faixa de R$ 55 mil, não há nada tão divertido quanto o T-Jet entre os carros 0 km. Se você tem bala na agulha e também deseja status, o A1 Sport
é a escolha definitiva: o mais avançado tecnicamente e dono da
dirigibilidade mais afiada. Mas, no fim do dia, a vitória fica com o DS3.
O Citroën abre uma distância segura do Fiat em desempenho e refinamento
para justificar a diferença de preço. E anda quase na mesma balada do A1, além de ser mais prático, econômico e custar muito menos – para comprar e para manter.
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