Vida e Trajetória de Ayrton Senna da Silva
Ayrton Senna ganhou seu primeiro kart, um presente que deveria ter sido dado à sua irmã Viviane, que rejeitara o presente, aos três anos de idade. Era um pequeno kart, com um motor de cortador de grama de 1 hp. Sobre o presente, Senna disse que "até então era uma brincadeira, e eu gostei da brincadeira", o que chamou de "seu primeiro contato com o esporte". Na juventude correu de kart, foi campeão da Fórmula 3 britânica e fez sua estréia na Fórmula 1 em 1984, com um carro da equipe Toleman. Passou para a Lotus em 1985 e ganhou seis corridas durante três temporadas. Em 1988 se juntou ao francês Alain Prost, na McLaren, e ganhou seu primeiro campeonato mundial de Fórmula 1. Também com Alain Prost, protagonizou uma das maiores rivalidades da Fórmula 1. Senna foi campeão mais duas vezes, em 1990 e 1991, sendo a de 1990 decidida de uma forma bastante controversa devido a uma colisão com Prost.
Nos dois anos seguintes com a McLaren, apesar de dirigir um carro inferior, Senna ainda venceu oito corridas e terminou o ano de 1993 como vice-campeão. Em 1994 saiu da McLaren e foi para a então dominante equipe Williams-Renault, onde encerrou sua carreira num trágico acidente na sétima volta do GP de San Marino, disputado no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, e que foi testemunhado ao vivo por milhares de fãs em todo o mundo.
Senna esteve próximo de vencer o GP de Mônaco de 1984, sua temporada de estréia, e dirigindo um carro inferior. Sua primeira vitória viria no GP de Portugal, sendo que os dois GPs foram disputados sob fortes chuvas.[5] Detém 19 voltas mais rápidas, 65 pole-positions, 41 vitórias e 614 pontos marcados em 161 corridas disputadas de 1984 a 1994. O seu recorde de seis vitórias no GP de Mônaco, seu primeiro título mundial em 1988 no GP do Japão, bem como sua impressionante exibição no chuvoso Grande Prêmio da Europa de 1993 são considerados exemplos de seu talento ao volante.[carece de fontes]
Dedicado e competitivo ao extremo,[5] ele afirmava sempre que não se contentava em ser o segundo melhor, mesmo que isso significasse o fim da corrida para ele. O seu companheiro de Williams, Damon Hill, sugeriu que Senna "prefere bater no seu oponente do que ser derrotado". Cruzou algumas vezes a linha do fairplay, sendo a sua mais famosa atitude na penúltima prova de 1990, o GP do Japão. Na pole position, Senna, que até então liderava o campeonato mundial, deliberadamente não deixou que o rival Alain Prost (então segundo colocado no campeonato) o ultrapassasse na primeira curva da corrida. Ambos os carros se tocaram e saíram rodando para a caixa de brita; a saída de Prost garantia o título a Senna, o que se confirmou em duas ou três voltas após a decisão da direção de prova em não interromper a corrida. Este acidente no Japão foi considerada por muitos uma revanche do ano anterior em que Prost, desta vez em primeiro lugar no campeonato, fez a mesma coisa com Senna, que precisava vencer a corrida para ter alguma chance no mundial. A colisão tirou Prost da corrida e Senna conseguiu continuar, mas foi desclassificado por cortar caminho numa chicane. Essa manobra deu a Prost o título mundial de 1989. Em 1991, também no Japão, Senna conquistou seu terceiro campeonato mundial com o segundo lugar na prova. Na entrevista com os três primeiros colocados, declarou que 1990 havia sido uma final triste para o campeonato e que sua decisão de não deixar Prost ultrapassá-lo na primeira curva devia-se ao fato da direção de prova ter se recusado a alterar a pole position do lado de dentro da pista para o lado de fora. Em sua visão a pole position (que havia sido conquistada por ele em 1990 no Japão) possuía uma desvantagem por estar do lado sujo da pista, o que o teria feito perder a primeira posição para Prost logo após a largada.
Usou parte de sua fortuna para criar o Instituto Ayrton Senna, com o propósito de ajudar os jovens pobres do Brasil e no mundo.
Senna tinha grande preocupação com o potencial perigo desse esporte e sempre lutou junto aos organizadores e pilotos para melhorar a segurança nas pistas.[5]
[editar] Caráter
Além de sua excepcional habilidade em pilotar, Senna foi um dos esportistas mais admirados. Bastante introspectivo e extremamente passional, costumava pilotar como uma forma de se auto-descobrir e as corridas eram uma metáfora para sua vida:
“ | "Quanto mais eu me esforço, mais eu me encontro. Eu estou sempre olhando um passo à frente, um diferente mundo para entrar, lugares onde eu nunca estive antes. É muito solitário pilotar num GP, mas muito cativante. Eu senti novas sensações e eu quero mais. Essa é a minha excitação, minha motivação." | ” |
Berger disse sobre o companheiro: "Ele me ensinou muito sobre o automobilismo, e eu o ensinei a rir".
Depois da morte de Senna, surgiram declarações de que ele teria feito doações de sua fortuna pessoal, estimada em 400 milhões de dólares, às crianças carentes, fato que ele teria tentado manter em segredo, porém estas doações não foram confirmadas até hoje. O Instituto Ayrton Senna, criado pela família de Ayrton Senna após sua morte, recebeu de empresas interessadas, cerca de 80 milhões de dólares nos últimos anos para serem investidos em programas sociais e em parcerias com escolas, governos, ONGs e setores privados.
O documentário The Right to Win, de 2004, foi um tributo a Senna. Nele, Frank Williams lembra o grande piloto que Senna foi.[6]
[editar] Controvérsias e críticas
Durante sua longa carreira, Senna envolveu-se em vários acidentes, com causas absolutamente controversas. Ele foi responsabilizado pela imprensa britânica nas colisões que decidiram os campeonatos de 1989 e 1990. As imprensas italiana e alemã o condenaram por seus atos em 1990.
Senna via seus concorrentes diretos — Piquet, Prost e Mansell — como verdadeiros inimigos, sem contar os poderosos dirigentes do esporte. Não manteve bom relacionamento com nenhum, exceto uma pequena empatia por Mansell, muito mais graças ao inglês, que era mais afável. Em Interlagos, durante um duelo com Senna, Mansell rodou no "S do Senna" e abandonou a prova, levando a torcida à loucura. Quando Senna passou pelo local na volta seguinte, Mansell, já fora do carro, fez um gesto de aplauso, que Senna retribuiu acenando. Em 1991, em Silvertone, na Inglaterra, após abandonar por pane seca, Senna pegou uma carona com Nigel Mansell, que ganhou a corrida. Este foi considerado um dos maiores gestos de desportividade.
[editar] Morte
[editar] Acidente Fatal em ímola
Na terceira corrida da temporada, o GP de San Marino, em Ímola, Senna declarou que esta deveria ser a corrida de início da temporada para ele, pois não havia terminado as anteriores e agora faltavam apenas catorze corridas. Senna mais uma vez conquistou a pole, mas o fim de semana não seria tão fácil. Ele estava particularmente preocupado com dois eventos. Um deles, na sexta-feira, durante a sessão de qualificação da tarde, o piloto brasileiro Rubens Barrichello, envolveu-se em um grave acidente perdendo o controle de sua Jordan, passou por cima de uma zebra e voou da pista, chocando-se violentamente contra uma barreira de pneus.
Felizmente, Barrichello saiu desse acidente com pequenas escoriações e o nariz quebrado, ferimento suficiente para impedi-lo de correr no domingo. Senna visitou seu amigo no hospital - ele pulou o muro depois que foi impedido de visitá-lo pelos médicos - e ficou convencido de que as normas de segurança deveriam ser revisadas.
O segundo ocorreu no sábado, durante os treinos livres, quando o austríaco Roland Ratzenberger, correndo pela Simtek, bateu violentamente na curva Villeneuve num acidente que começou a se formar na fatídica curva Tamburello, quando a asa dianteira de seu carro se soltou fazendo-o perder o controle do veículo. Levado ao Hospital Maggiore de Bolonha, ele faleceu minutos depois. Essa foi a primeira morte de um piloto na pista em dez anos - desde que a FIA adotara sérias medidas de segurança -. Senna convenceu os oficiais de pista a levá-lo ao local do acidente para ver ele mesmo o que poderia ter acontecido e essa ousadia lhe custou mais uma advertência e algum desgaste na sua atribulada relação com a FIA.
Senna passou o final da manhã reunido com outros pilotos, determinado a recriar a antiga Comissão de Segurança dos Pilotos, a fim de melhorar a segurança na F1. Como um dos pilotos mais velhos, ele se ofereceu para liderar esses esforços.
Apesar de tudo, Senna e todos os outros pilotos concordaram em correr. Ele saiu em primeiro, mas J.J. Lehto deixou morrer sua Benetton, fazendo os outros pilotos desviarem dele. Porém Pedro Lamy, da Lotus-Mugen, bateu na parte traseira de Lehto, o que levou o safety car à pista por cinco voltas.
Na sétima volta a corrida foi reiniciada, e Senna rapidamente fez a terceira melhor volta da corrida, seguido por Schumacher. Senna iniciara o que seria a sua última volta; ele entrou na curva Tamburello e perdeu o controle do carro, seguindo reto e chocando-se violentamente contra o muro de concreto. A telemetria mostrou que Senna, ao notar o descontrole do carro, ainda conseguiu, nessa fração de segundo, reduzir a velocidade de cerca de 300 km/h (195 mph) para cerca de 200 km/h (135 mph).[7] Os oficiais de pista chegaram à cena do acidente e, ao perceber a gravidade, só puderam esperar a equipe médica. Por um momento a cabeça de Senna se mexeu levemente, e o mundo, que assistia pela TV, imaginou que ele estivesse bem, mas esse movimento havia sido causado por um profundo dano cerebral. Senna foi removido de seu carro pelo Professor Sidney Watkins, neurocirurgião de renome mundial pertencente aos quadros da Comissão Médica e de Segurança da Fórmula 1 e chefe da equipe médica da corrida, e recebeu os primeiros socorros ainda na pista, ao lado de seu carro destruído, antes de ser levado de helicóptero para o Hospital Maggiore de Bolonha onde, poucas horas depois, foi declarado morto.
Mais tarde o Professor Watkins declarou:
“ | Ele estava sereno. Eu levantei suas pálpebras e estava claro, por suas pupilas, que ele teve um ferimento maciço no cérebro. Nós o tiramos do cockpit e o pusemos no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico, eu senti sua alma partir nesse momento. | ” |
Foi encontrado no carro de Ayrton Senna uma bandeira austríaca que, em caso de uma possível vitória, Ayrton Senna empunharia em homenagem ao austríaco Roland Ratzenberger, morto um dia antes.[8]
Foi um GP trágico. Além do acidente de Barrichello e das mortes de Senna e Ratzenberger, o acidente entre J.J. Lehto e Pedro Lamy fez arremessar dois pneus para a arquibancada, ferindo vários torcedores. O italiano Michele Alboreto, da Minardi, perdeu um pneu na saída dos boxes e se chocou contra os mecânicos da Ferrari, ferindo também um mecânico da Lotus.
Não bastando isso, durante alguns minutos as comunicações no circuito entraram em colapso, permitindo que o piloto Erik Comas, da equipe Larousse, deixasse o pit-stop e retornasse à corrida quando ela já havia sido interrompida. Comas somente entendeu o que estava acontecendo quando os fiscais de pista mais próximos ao acidente tremularam nervosamente suas bandeiras vermelhas indicando-lhe a situação. Se não fosse por essa atitude, ele poderia ter se chocado com o helicóptero que se encontrava pousado no asfalto da pista aguardando para levar Senna ao hospital.
A imagem de Ayrton apoiado na sua Williams, flagrado pelas tevês, com o olhar distante e perdido, pouco antes do início do GP, ficaria marcada para sempre entre seus fãs.
No Brasil, ficou muito difundida uma frase dita pelo jornalista Roberto Cabrini ao Plantão da Globo, boletim de notícias extraordinário da Rede Globo. Logo após a confirmação da morte de Ayrton, pelo hospital, Cabrini noticiou dizendo, por telefone:
“ | "Morreu Ayrton Senna da Silva... Uma notícia que a gente nunca gostaria de dar." | ” |
[editar] Investigações sobre os acidentes
De acordo com a perícia, Senna perdeu o controle do carro devido à quebra da coluna de direção[9] do seu Williams. O documento sugere que houve negligência dos técnicos da equipe numa reparação feita na coluna de direção. Em novembro de 1996, a denúncia do promotor Maurizio Passarini foi acolhida pelo juiz Diego Di Marco. Frank Williams, Patrick Head, Adrian Newey, Federico Bondinelli (um dos responsáveis pela empresa que administrava o autódromo de Ímola), Giorgio Poggi (o responsável pela pista), Roland Bruinseraed (o director da prova), e o mecânico que soldou a coluna de direção do Williams foram indiciados por homicídio culposo, por negligência e imprudência. Porém, em dezembro de 1997, o juiz Antonio Constanzo absolveu os acusados.
Em 2004, um documentário de televisão da National Geographic chamado "A morte de Ayrton Senna" foi transmitido para o mundo inteiro. O programa considerou os dados disponíveis do carro do Senna para reconstituir a sequência de eventos que o conduziu ao acidente fatal. O programa concluiu que o longo período que o safety-car permaneceu na pista fez reduzir as pressões nos pneus de Senna, abaixando o carro. Com o carro mais baixo, o chassi tocou o solo, fazendo o carro saltar e tornando a direção incontrolável. Senna teria reagido, mas, com os pneus travados, ele foi arremessado para fora da curva. O programa concluiu que se as reações do piloto tivessem sido mais lentas, ele talvez pudesse ter sobrevivido. Pilotos e especialistas em Fórmula 1 consideram parte dessa teoria como improvável, pois os pneus de Fórmula 1 se aquecem até a temperatura ideal depois de percorrer apenas 2 km, meia volta no circuito de San Marino, assim na volta 7 os pneus do carro de Senna já estariam aquecidos.
[editar] Discussões
Senna tinha 34 anos quando morreu. Sua morte aconteceu primariamente por um impacto inesperado da roda com o muro, que fez o pneu estourar e, a uma velocidade incrível, o pneu estourado com a roda voou a cerca de 208 km/h, atingindo o capacete verde e amarelo na frente, acima do olho direito. O impacto foi tão forte que a roda voou quase 60 metros e o carro de Senna ainda voltou para a pista. Feitos os cálculos da quantidade de movimento de uma roda de 17 kg e a força proveniente do impacto, concluiu-se que ela seria insuportável e o resultado esperado seria que o cérebro tivesse danos extensos e parte dele vindo praticamente se "liquefazer", mas o capacete suportou boa parte do impacto. O capacete de Senna mostrou uma quebra com grande afundamento acima da viseira, o que assustou todos com a violência do impacto, obviamente insuportável para qualquer ser vivo. Na análise dos médicos na pista, no hospital e na autópsia, depois de constatada a morte cerebral, foram percebidos três graves traumas, um grande choque que provocou fraturas na têmpora e rompeu a artéria temporal, uma fratura na base do crânio devido à potência do impacto, e além do mais um pedaço de fibra de carbono da carenagem penetrou o visor do capacete e adentrou a órbita acima do olho direito, danificando irreversívelmente o lobo frontal. Qualquer um dos três ferimentos seria suficiente para lhe tirar a vida.
Tanto a FIA como as autoridades italianas mantém a versão de que Senna não morreu instantaneamente, e sim no hospital, para onde ele foi levado rapidamente de helicóptero. Existe uma interminável discussão entre as autoridades a esse respeito.
Ainda se discute por que Senna não foi declarado morto na pista. Especula-se que isso se deve à lei italiana que diz que, quando uma pessoa morre em um evento desportivo, essa morte deve ser investigada, fazendo com que o evento seja cancelado. O diretor do instituto legal de medicina do Porto (Portugal), o professor José Eduardo Pinto da Costa, informa o seguinte:
“ | Do ponto de vista ético, o tratamento dado a Senna foi errado. Isso se chama distanásia, que significa que uma pessoa esteve mantida viva impropriamente depois que a morte biológica devido aos ferimentos de cérebro tão sérios que o paciente nunca poderia permanecer vivo sem meios mecânicos da sustentação. Não haveria nenhuma perspectiva de vida normal. Mesmo se ele tivesse sido removido do carro quando seu coração ainda estava batendo é irrelevante à determinação de quando morreu. A autópsia mostrou que Senna sofreu fraturas múltiplas na base do crânio, esmagando a testa e rompendo a artéria temporal com hemorragia nas vias respiratórias. É possível reanimar uma pessoa depois que o coração para de bater com os procedimentos cardiorrespiratórios. No caso de Ayrton, há um ponto sutil: as medidas da ressuscitação foram executadas. Ainda sob o ponto de vista ético isto pode bem ser condenado, porque as medidas não foram em benefício do paciente, mas um pouco porque serviriam ao interesse comercial da organização. A ressuscitação ocorreu de fato, com a traqueostomia e quando a atividade do coração foi restaurada com o auxílio dos procedimentos cardiorrespiratórios. A atitude na pergunta era certamente controversa. Qualquer médico saberia que não havia nenhuma possibilidade de sucesso em restaurar a vida na circunstância em que o Senna tinha sido encontrado. | ” |
O professor Jose Pratas Vital, diretor do hospital de Egas Moniz em Lisboa, um neurocirurgião e chefe da equipe médica no GP português, oferece uma opinião diferente:
“ | As pessoas que conduziram a autópsia indicam que, na evidência de seus ferimentos, o Senna estava morto. Mas eles não poderiam dizer isso. Ele realmente teve os ferimentos que o conduziram à morte, mas nesse ponto o coração pode ainda ter funcionado. Os médicos que atendem a uma pessoa ferida, e que percebem que o coração ainda está batendo, têm apenas duas atitudes a tomar: uma é assegurar-se de que as vias respiratórias do paciente permaneçam livres, o que significa que ele pode respirar. No caso de Senna, eles realizaram uma traqueostomia, liberando as vias respiratórias. Com oxigênio e a batida do coração, passamos à segunda atitude: a perda de sangue. Estas são as etapas a ser seguidas em todo caso envolvendo ferimento sério, se na rua ou em uma pista. A equipe de salvamento não pode pensar de nada mais nesse momento exceto imobilizar a coluna cervical do paciente. Então a pessoa ferida deve ser levada imediatamente à unidade de cuidados intensivos do hospital o mais próximo. | ” |
Rogério Morais Martins:
“ | De acordo com o primeiro boletim clínico emitido pela Dra. Maria Teresa Fiandri às 16:30, o paciente Ayrton Senna teve dano de cérebro com choque hemorrágico e encontrava-se em coma profundo. Entretanto, a equipe de médica não notou nenhuma ferida na caixa torácica ou no abdômen. A hemorragia foi causada pela ruptura da artéria temporal. O neurocirurgião que examinou o Senna no hospital mencionou que as circunstâncias não exigiam uma cirurgia porque a ferida foi generalizada no crânio. Às 18:05, a Dra. Fiandri leu um outro comunicado, com a voz agitada, anunciando que Senna estava morto. Nesse momento ele ainda estava ligado aos equipamentos que mantiveram sua pulsação. A liberação pelas autoridades italianas dos resultados da autópsia de Senna que revelaram que o piloto tinha morrido instantaneamente durante a corrida em Imola, inflamou ainda mais controvérsia. Agora havia perguntas a serem respondidads pelo diretor da corrida e pelas autoridades médicas. Embora os porta-vozes do hospital indicassem que Senna ainda estava respirando na chegada a Bolonha, a autópsia em Roland Ratzenberger [que morreu um dia antes] indicou que a morte tinha sido instantânea. Sob a lei italiana, uma morte dentro do circuito exigiria o cancelamento da corrida e toda a área deveria ser mantida intacta para a investigação. | ” |
Dessa forma, eles teriam evitado a morte de Ayrton.
Os médicos não são capazes de afirmar se Senna morreu instantaneamente. Não obstante, estavam bem cientes de que suas possibilidades de sobrevivência eram mínimas. Se vivesse, o dano no cérebro deixá-lo-ia severamente deficiente. Os acidentes como este são quase sempre fatais. Além disso, existem os efeitos no cérebro da desaceleração brusca, que causa dano estrutural aos tecidos cerebrais.
Estima-se que as forças envolvidas no acidente de Ayrton sugerem uma taxa de desaceleração equivalente a uma queda vertical de 300 metros. A autópsia revelou que o impacto a 208 km/h causou os ferimentos múltiplos na base do crânio, tendo por resultado a insuficiência respiratória. Havia um esmagamento do cérebro (que foi arremessado junto à parede do crânio que causa o edema, a hemorragia e o aumento de pressão intra-cranial) junto com a ruptura da artéria temporal que causou a hemorragia nas vias respiratórias e a consequente parada cardíaca.
Quanto à possibilidade de os pilotos estarem ainda vivos quando foram postos nos helicópteros que os levaram ao hospital, os experts acreditam que os organizadores da corrida atrasaram o anúncio das mortes a fim de evitar o cancelamento e assim proteger seus interesses financeiros.
A Sagis, organização que administra o circuito de Ímola, chegou a cancelar a prova mesmo com um prejuízo estimado em US$ 6.5 milhões. A FIA desmente essa informação.
Por conta desse e do acidente de Ratzenberger, a curva Tamburello e a curva Villeneuve foram transformadas em chicanes.
No ano 2000, Senna foi postumamente incluído no International Motorsports Hall of Fame.
[editar] Funeral
A lendária curva Eau Rouge no circuito da Bélgica foi temporariamente readequada para a corrida de 1994. Na foto, Damon Hill dirige pela chicane, onde foi escrita uma mensagem em homenagem a Senna. A morte do piloto foi considerada pelos brasileiros como uma tragédia nacional e o governo brasileiro declarou três dias de luto oficial. O governo brasileiro também lhe concedeu honras de chefe de Estado, com a característica salva de tiros. Estima-se que mais de um milhão de pessoas foram às ruas para ver seu ídolo e render-lhe as últimas homenagens, sem contar os milhões que acompanharam pela televisão desde a chegada do avião que trouxe seu corpo no Aeroporto de Guarulhos, às 5h30 da manhã.
A maioria dos pilotos de Fórmula 1 estiveram presentes no funeral de Senna. Porém o então presidente da FIA, Max Mosley, não compareceu, alegando que estava nos funerais de Ratzenberger no dia 7 de maio, em Salzburgo, na Áustria. Mosley disse à imprensa, dez anos depois: "Fui a esse funeral porque todos estavam no de Senna. Achei que era importante alguém ir a esse."[10]
Na corrida seguinte, em Mônaco, a FIA decidiu deixar vazias as duas primeiras posições no grid de largada, e elas foram pintadas com as cores das bandeiras brasileira e austríaca, em homenagem a Senna e Ratzenberger.
O corpo de Senna está sepultado no jazigo 11, quadra 15, sector 7, do Cemitério do Morumbi, em São Paulo.
[editar] Legado
Na reforma do autodromo de Interlagos em 1990 uma mudança radical do traçado foi proposta para seguir as regras de limites de distância de um circuito da FIA, e uma grande curva inclinada foi sugerida para ligar a reta dos boxes à curva do sol. Ayrton propôs um "S" que ligasse as duas retas, daí o nome de "S do Senna", pelo design do tricampeão, e não somente uma homenagem dada a ele.
Em 2005, o cantor italiano Cesare Cremonini gravou uma canção intitulada Marmelata #25 e, no refrão, há uma parte que diz em italiano: "Ahh! Desde que Senna não corre mais… não é mais domingo".[11]
Com a morte de Ayrton Senna, novas normas de segurança foram implementadas para a F1. Novas barreiras, curvas redesenhadas, altas medidas de segurança e o próprio cockpit dos pilotos foram mudanças feitas na F1, ligadas diretamente à sua morte.
Senna sempre foi bastante preocupado com as crianças pobres e, em 1994, ele anunciou que tinha a intenção de fazer alguma coisa por elas. Morreu antes de implementar essas ideias. Sua família, então, criou o Instituto Ayrton Senna[12] em sua memória, para ajudar as crianças pobres brasileiras.
[editar] Carreira
[editar] Início
Paulistano nascido no tradicional bairro de Santana,[13][14] filho de um empresário brasileiro, logo interessou-se por automóveis. Incentivado pelo pai, um entusiasta das competições automobilísticas, ganhou o seu primeiro kart, feito pelo próprio pai (Sr. Milton), aos quatro anos de idade, e que tinha um motor de máquina de cortar grama. A habilidade do garoto na condução do novo brinquedo impressionou a família. Aos nove anos, já conduzia jipes pelas estradas precárias dentro das propriedades rurais do pai.
Começou a competir oficialmente nas provas de kart aos treze anos. Depois de terminar como segundo colocado em várias ocasiões, em 1977 ganhou o Campeonato Sul-Americano de Kart e também em 1980, o Brasileiro em 1977, 1978 e 1980. Faltaram para Senna as conquistas no Paulista e principalmente no Mundial. Ele sentia-se frustrado por não ter alcançado o título de melhor piloto do mundo; tentou quatro vezes, sendo vice em 1979 e 1980. Como ele dizia, é o primeiro lugar ou nada.
Em 1981 começou a competir na Europa, ganhando o campeonato inglês de Fórmula Ford 1600, pela equipe de Ralf Firman. Em 1982, foi campeão europeu e britânico de Fórmula Ford 2000, pela equipe de Dennis Rushen. Nessa época adotou o nome de solteira da mãe, Senna, pois Silva é um nome bastante comum no Brasil.
Em 1983, Senna ganhou o campeonato inglês de Fórmula 3, pela equipe de Dick Bennetts, depois de muita luta e da muitas vezes controversa batalha com Martin Brundle. Também triunfou no prestigioso Grande Prêmio de Macau pela Teddy Yip's Theodore Racing Team, diretamente relacionado à equipe que o conduziu à F3 britânica.
Neste último campeonato, após várias vitórias em Silverstone, a imprensa inglesa especializada chegou a chamar o circuito de Silvastone[15] em homenagem a Ayrton.
[editar] Fórmula 1
Senna atraiu a atenção de diversas equipes de Fórmula 1 como Williams, McLaren, Brabham e Toleman. Ao contrário do que se imagina, seu compatriota Nelson Piquet não se opôs à sua contratação pela Brabham. A patrocinadora da equipe, a Parmalat, tinha mais interesse em ter um piloto italiano na equipe do que ter dois brasileiros, influenciando na decisão da equipe em contratar o piloto italiano Teo Fabi para a temporada. Senna, imaginando que Piquet tinha mais influência na equipe, ficou ressentido, declarando em uma entrevista que "Ele (Piquet) não ajudou e nem atrapalhou", dando a entender que sua ida à Brabham foi vetada pelo então bicampeão mundial.
Assim, das três remanescentes, apenas a equipe Toleman ofereceu a ele um carro para disputar o campeonato do ano de 1984.
[editar] 1984: Toleman
Senna marcou seu primeiro ponto no campeonato mundial de pilotos logo no segundo grande prêmio que disputou, em Kyalami na África do Sul. Ele repetiu o resultado duas semanas depois, no Grande Prêmio da Bélgica, disputado no circuito de Zolder. Uma semana depois, o piloto brasileiro não conseguiu tempo para o Grande Prêmio de San Marino. Foi a única vez na carreira que isso aconteceu.
Mas sua performance no GP de Mônaco em 1984 trouxe-lhe todas as atenções das demais equipes. Classificou-se em 13º no grid de largada e fez um rápido progresso através das estreitas ruas de Monte Carlo. Na volta 19, passou Niki Lauda, que estava em segundo, e começou a ameaçar o líder Alain Prost, e continuou por várias voltas lutando pelo primeiro lugar com seu limitado Toleman. A esta altura já chovia muito no circuito e a corrida foi interrompida na volta 31 por razões de segurança. Senna chegou a comemorar a vitória ultrapassando Alain Prost a poucos metros da linha de chegada mas, nesses casos, o regulamento mandava considerar as colocações da volta anterior e, ainda, por ter sido interrompida com mais da metade da corrida, os pontos deveriam ser computados pela metade (ver curiosidades).
Senna ainda ganhou dois pódios naquele ano - terceiro no Grande Prêmio da Inglaterra, em Brands Hatch, e no GP de Portugal, em Estoril. Isso o deixou empatado com Nigel Mansell com 13 pontos, apesar de ter perdido o GP da Itália quando a Toleman o suspendeu de correr por quebra de contrato, depois de ele ter assinado com a Lotus para o ano de 1985.
Ainda em 1984 Senna tomou parte nos 1000 km de Nürburgring, onde pilotou o Porsche 956 para o oitavo lugar, correndo em parceria com Henri Pescarolo e Stefan Johansson.
Também participou de uma corrida de exibição para celebrar a inauguração do novo circuito de Nürburgring. A maioria dos melhores pilotos da F1 participaram do evento, dirigindo carros Mercedes 190e 2.3-16 idênticos. Senna venceu Lauda e Carlos Reutemann.
[editar] 1985-1987: Lotus
Na Lotus, em 1985, ele tinha como parceiro o italiano Elio de Angelis. Senna largou em quarto na sua primeira corrida pela nova equipe na abertura da temporada no Brasil, no circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, mas abandonou a prova devido a problemas elétricos.
Na segunda corrida do ano, o GP de Portugal, disputado no autódromo de Estoril, em 21 de abril de 1985, conseguiu sua primeira vitória na Fórmula 1, largando na pole position sob pesada chuva. Prost, em segundo, abandonou depois de bater no muro. Senna conseguiu sua segunda vitória, também sob chuva, no GP da Bélgica, no circuito de Spa-Francorchamps.
Graças ao excelente motor Renault de treinos, Senna passaria a ser o "rei das pole positions". Mas, nas pistas, ele não terminou a maioria dos grandes prêmios. Encerraria o ano com uma corrida marcante no GP da Austrália, quando repetiu um feito de seu ídolo Gilles Villeneuve e pilotou um bom tempo sem o bico do carro, saindo várias vezes da pista mas mantendo a segunda posição. O carro mais uma vez não aguentou o esforço e Senna abandonou a corrida.
Senna terminou a temporada de 1985 em quarto lugar no Campeonato Mundial de Pilotos, com 38 pontos e seis pódios (duas vitórias, dois segundos e dois terceiros lugares), além de sete pole positions.
Em 1986, Ayrton escolheu o escocês Johnny Dumfries como parceiro, vetando o inglês Derek Warwick sob a alegação de que a Lotus não tinha condições de manter carros competitivos para dois pilotos de ponta ao mesmo tempo.
A nova Lotus 98T mostrou ser mais confiável em 1986 e a temporada começou bem para Senna, terminando em segundo a corrida vencida pelo também brasileiro Nelson Piquet, numa dobradinha caseira, no GP do Brasil em Jacarepaguá. Reconhecendo estar com um carro inferior aos das Williams e McLaren, Senna passou a adotar uma estratégia de não parar para trocar pneus, buscando ficar na frente dos adversários o maior tempo possível. Com essa tática ele passou a liderar o campeonato pela primeira vez na carreira, depois de vencer o GP da Espanha, em Jerez de la Frontera, no qual bateu a Williams de Nigel Mansell por 0,014s - uma das menores diferenças de chegada da história da F1.
Mas a liderança do campeonato não foi mantida por muito tempo já que Senna abandonou diversas outras corridas por problemas mecânicos. A caça ao primeiro título mundial acabou sendo uma luta entre Prost e sua McLaren-TAG e a dupla Piquet e Mansell da Williams-Honda.
Na Hungria, um circuito ainda mais travado (que não permitia ultrapassagens), repetiu uma vez mais a estratégia, mas foi ultrapassado por Nelson Piquet, numa das mais sensacionais manobras da história da Fórmula 1 moderna.
Ainda nesse ano, Senna se tornaria definitivamente um ídolo no Brasil ao conquistar sua segunda vitória na temporada no GP dos Estados Unidos, disputado em Detroit, e terminou o campeonato novamente na quarta colocação, com 55 pontos, oito poles e seis pódios.
O ano de 1987 veio com muitas promessas de dias melhores. A Lotus tinha um novo patrocinador, o Camel, e o mesmo poder dos motores Honda das Williams depois que a Renault decidira se retirar do esporte. Depois de um começo lento, Senna ganhou duas corridas em seguida: o prestigioso GP de Mônaco (a primeira do recorde de seis vitórias no principado) e o GP dos Estados Unidos em Detroit, também pelo segundo ano seguido, e mais uma vez chegou à liderança do campeonato. Nesse momento, a Lotus 99T Honda parecia ser mais ou menos igual aos ótimos Williams-Honda, mais uma vez pilotados por Piquet e Mansell. Mas apesar da performance do 99T, que usava a tecnologia da suspensão ativa, as Williams FW11B de Piquet e Mansell eram ainda carros a serem batidos. A diferença entre as duas equipes nunca foi tão evidente quanto no GP da Inglaterra de 1987, em Silverstone, onde Mansell e Piquet voaram sobre as Lotus de Senna e seu parceiro, Satoru Nakajima. Depois de rodar na pista devido a uma falha na embreagem a três voltas do final no GP do México, Senna ficou fora da luta pelo campeonato, deixando Piquet e Mansell brigando por ele nas últimas duas corridas.
Mansell feriu-se nas costas em um grave acidente durante os treinos para o GP do Japão de 1987, em Suzuka, deixando o campeonato nas mãos de Piquet. Entretanto, isso significava que Senna poderia terminar a temporada em segundo lugar se ele terminasse a corrida entre os três primeiros nas duas corridas que faltavam - Japão e Austrália. Ele terminou as duas em segundo, mas as medições feitas no carro depois do GP da Austrália constataram que os dutos dos freios eram mais largos do que o permitido pelo regulamento e Senna foi desclassificado, dando à Lotus a sua última bem sucedida temporada. Ele acabou classificado em terceiro na colocação final, com 57 pontos, uma pole e oito pódios (duas vitórias, quatro segundos e dois terceiros). Essa temporada marcou uma reviravolta na carreira de Senna depois de ele ter construído uma profunda relação com a Honda, que lhe rendeu grandes dividendos. Ayrton foi contratado pela McLaren, que acertou com a Honda o fornecimento de motores V6 Turbo para 1988.
[editar] 1988-1993: McLaren
Em 1988, as McLaren-Honda ostentavam os números 11 e 12, desta vez com a dupla Alain Prost e Ayrton Senna. A feroz competição entre Senna e Prost fez rachar a relação entre os dois e culminou com um alto número de dramáticos acidentes entre eles. A dupla venceu 15 das 16 corridas disputadas, com predomínio total da McLaren MP4/4 em 1988, e Senna conquistou seu primeiro campeonato mundial.
Senna dirigia a McLaren MP4/5 em 1989. Nesse ano, a rivalidade entre ele e Prost intensificou as batalhas na pista e uma grande guerra psicológica. Prost conquistou o tri-campeonato em 1989, depois de uma colisão com Senna durante o GP do Japão, em Suzuka, penúltima corrida da temporada, e que Senna precisava vencer para ter chances de conquistar o campeonato mundial na última etapa. Senna tentou ultrapassar Prost na chicane, os dois "tocaram" os pneus e foram para fora da pista com os carros entrelaçados, (na câmera onboard da McLaren número 2, o francês guinou o volante para evitar que o seu companheiro de equipe realizasse a ultrapassagem e contornasse a chicane à frente dele), Senna retornou à pista auxiliado pelos fiscais, que empurraram seu carro pois o motor havia apagado e ele foi direto aos boxes para reparar o bico do carro danificado na manobra. Voltando à pista, tirou a liderança de Alessandro Nannini, da Benetton, e chegou em primeiro, sendo desclassificado pela FIA por cortar a chicane depois da colisão com Prost. A penalização e a suspensão temporária de sua superlicença - que é a habilitação de um indivíduo para pilotar carros de F1 - fez com que Senna travasse uma batalha de palavras com a FIA e seu presidente Jean-Marie Balestre.[16]
Em 1990, no mesmo circuito e com os dois pilotos novamente disputando o título mundial, Senna tirou a pole de Prost. A Ferrari de Prost fez uma largada melhor e pulou à frente da McLaren de Senna, que antes mesmo da largada havia declarado que não permitiria uma ultrapassagem de Prost. Na primeira curva, Senna tocou a roda traseira de sua McLaren na Ferrari de Prost a 270 km/h (170 mph), levando os dois carros para fora da pista. Ao contrário do ano anterior, desta vez o abandono dos pilotos deu a Senna o seu segundo título mundial.
Em 1991, depois de conquistar seu terceiro título mundial, Senna explicou à imprensa o que acontecera no ano anterior em Suzuka. Ele tinha como prioridade conseguir a pole pois havia recebido informações seguras de que esta mudaria de lado, passando para a esquerda, o lado limpo da pista, somente para descobrir que essa decisão havia sido revertida por Balestre depois que ele conquistara a pole. Explicando a colisão com Prost, Senna disse que queria deixar claro que ele nunca iria aceitar as decisões injustas de Balestre, incluindo a sua desclassificação em 1989 e a pole de 1990:[16]
“ | "Eu acho que o que aconteceu em 1989 foi imperdoável e eu nunca irei esquecer isso. Eu me empenho em lutar até hoje. Você sabe o que aconteceu aqui: Prost e eu batemos na chicane, quando ele virou sobre mim. Apesar disso, eu voltei à pista, ganhei, e eles decidiram contra mim, o que não foi justo. E o que aconteceu depois foi "teatro", mas eu não sei o que pensei. Se você faz isso, você será penalizado, multado e talvez perca sua licença. Essa é a forma correta de trabalhar? Não… Em Suzuka no ano passado eu pedi aos organizadores para trocar o lado da pole. Não foi justo, porque o lado direito é sempre o sujo. Você se esforça pela pole e é penalizado por isso. E eles dizem: "Sim, sem problema." E depois o que acontece? Balestre dá a ordem para não mudar nada. Eu sei como o sistema funciona e eu pensei que foi mesmo uma m****. Então eu disse a mim mesmo: "Ok, aconteça o que acontecer, eu vou entrar na primeira curva antes - Eu não estava preparado para deixar o outro (Alain Prost) chegar na curva antes de mim. Se eu estou perto o suficiente dele, ele não poderá virar na minha frente - e ele será obrigado a me deixar seguir." Eu não me importo em bater; eu fui para isso. E ele não quis perder a chance, virou e batemos. Foi inevitável. Tinha que acontecer. "Então você deixou isso acontecer", alguém diria. "Por que eu causaria isso?". Se você se ferrar cada vez que estiver fazendo o seu trabalho limpo, conforme o sistema, o que você faz? Volta para trás e diz "Obrigado"? De jeito nenhum! Você deve lutar para o que você acha que é certo. Se a pole estivesse colocada na esquerda, eu teria chegado na frente na primeira curva, sem problemas. Que foi uma péssima decisão manter a pole na direita, e isso foi influenciado pelo Balestre, isso foi. E o resultado foi que aconteceu na primeira curva. Eu posso ter contribuído, mas não foi minha responsabilidade".[16] | ” |
Em 1992, Senna estava determinado a vencer apesar do desânimo na McLaren com as Williams FW14B, o melhor carro da temporada. Senna chegou até a cogitar correr na Fórmula Indy.[17] O novo carro da McLaren, o modelo MP4/7A, para a temporada, tinha diversas falhas.
Houve um atraso em fazer o novo carro, (ele estreou na 3ª corrida, no GP do Brasil), além da carência de confiabilidade da suspensão ativa, que deixava o carro imprevisível nas curvas rápidas, enquanto os motores Honda V12 não eram os mais potentes. Senna venceu em Mônaco, Hungria e Itália naquele ano, e acabou o campeonato num modesto quarto lugar, perdendo o terceiro para Michael Schumacher na última corrida. O que chamou atenção naquele ano, já que o título foi conquistado com grande antecedência pelo inglês Nigel Mansell, foi o enrosco que o piloto brasileiro teve com o jovem Schumacher. Na oitava etapa, o Grande Prêmio da França em Magny-Cours, após a largada, ocupando a 4ª posição, Senna ia contornar a curva Adelaide, quando de repente foi atingido por trás pelo Benetton número 19; sem condições de sair do local, Senna abandonou a corrida prematuramente. Antes de começar a segunda largada, o brasileiro sem o macacão foi até o grid onde estava posicionado o carro do piloto. O tricampeão brasileiro queria conversar rapidamente com ele antes de dar entrevistas para a imprensa. Embora Senna quisesse inicar uma conversa amigável com Schumacher, o próprio piloto alemão não quis dialogar com o tricampeão naquele momento, porque não era o local e o momento adequado para essa discussão, já que o piloto da Benetton estava se concentrando com a equipe para a nova largada. Sem muito o que fazer, Senna deixou o local, pulou a mureta da pista e foi embora, deixando a impresa internacional que estava ao seu redor sem dar maiores explicações.
Senna demorou muito a decidir o que fazer em 1993 e chegou ao final do ano sem ser contratado por nenhuma equipe. Ele sentiu que os carros da McLaren não seriam competitivos, especialmente depois que a Honda resolveu se retirar da F1 no final de 1992, e não poderia ir para a Williams enquanto Prost estivesse por lá, pois o contrato dele proibia a equipe de ter Senna como seu parceiro.
Ron Dennis, chefe da McLaren, estava tentando assegurar um fornecimento de motores Renault V10 para 1993. Com a recusa da Renault, a McLaren foi obrigada a pegar os motores Ford V8 como um cliente comum. Dessa forma, a McLaren recebeu versões de motores mais velhas do que os clientes preferenciais da Ford, como a Benetton, e tentou compensar essa deficiência de potência com mais tecnologia e sofisticação, inclusive um sistema efetivo de suspensão ativa. Dennis finalmente persuadiu Senna a voltar para a McLaren, mas o brasileiro concordou somente em assinar para a primeira corrida da temporada, na África do Sul, onde ele iria verificar se os carros da McLaren eram competitivos o bastante para lhe proporcionar uma boa temporada.
Senna concluiu que esse novo carro tinha um surpreendente potencial mas ainda estava abaixo da potência, e não seria páreo para a Williams-Renault de Prost. Senna decidiu não assinar por uma temporada e sim por cada corrida a ser disputada. Eventualmente ele poderia permanecer por um ano, apesar de algumas fontes afirmarem que isso foi mais um jogo de marketing entre Dennis e Senna.
Depois de terminar em segundo na corrida de abertura da temporada na África do Sul, Senna ganhou os GPs do Brasil e da Europa, na chuva. Esta última é frequentemente lembrada como sendo uma de suas maiores vitórias na F1. Ele largou em quarto e caiu para quinto na primeira curva, mas já estava liderando antes da primeira volta ser completada. Alguns pilotos precisaram de sete pit stops para trocar os pneus de chuva/lisos, dependendo das mudanças climáticas ao longo da corrida. Senna foi segundo na Espanha e quebrou o recorde de seis vitórias em Mônaco, o que lhe fez jus ao antigo apelido de Graham Hill: Mister Mônaco. Depois de Mônaco, a sexta corrida da temporada, Senna liderou o campeonato à frente da Williams-Renault de Prost e da Benetton de Michael Schumacher, apesar da inferioridade dos motores da McLaren. A cada corrida, as Williams de Prost e Damon Hill mostravam a superioridade, com Prost caminhando para o campeonato enquanto Hill mantinha os segundos lugares. Senna concluiu a temporada e sua carreira na McLaren com cinco vitórias (Brasil, Europa, Mônaco, Japão e Austrália) e ficou com a segunda colocação na classificação geral. A penúltima corrida da temporada foi marcada por um incidente entre o estreante Eddie Irvine e Senna, iniciado numa manobra do atrevido piloto. O brasileiro, inflamado, foi aos boxes da equipe Jordan e socou o norte-irlandês.[18]
[editar] 1994: Williams
Senna já havia tentado entrar para a Williams em 1993, mas foi impedido por Prost, que vetou seu nome. Senna se ofereceu para pilotar por nada, pois seu desejo era fazer parte da vencedora equipe Williams-Renault, mas foi impedido por uma cláusula no contrato do francês que impedia o brasileiro de entrar para a equipe (Ato declarado no Filme "Senna"). Porém, essa cláusula não se estenderia até 1994, o que fez Prost se retirar das corridas um ano antes de vencer seu contrato, preferindo isso a ter seu principal rival como companheiro de equipe. Em 1994, Senna finalmente assinou com a equipe Williams-Renault.
Senna agora estava na equipe que havia ganho os dois campeonatos anteriores com um veículo muito superior aos demais. Era natural que, na pré-temporada, ele fosse considerado o favorito ao título, acompanhado de Damon Hill, que deveria fazer o papel de coadjuvante. Prost, Senna e Hill haviam ganho todas as corridas exceto uma, vencida por Michael Schumacher.
A pré-temporada de testes mostrou que o carro era rápido mas difícil de dirigir. A FIA havia banido os sistemas eletrônicos, incluindo a suspensão ativa, o controle de tração e os freios ABS para fazer o esporte mais "humano". A Williams não se mostrou um carro equilibrado no início da temporada. O próprio Senna fez várias declarações de que o carro era instável e desajeitado, indicando que o FW16, depois de perder a suspensão ativa, os ABS e o controle de tração, entre outras coisas, já não oferecia a mesma superioridade mostrada pelos FW15C e FW14B dos anos anteriores. Apesar de menor potência, a equipe Benetton pilotada por Schumacher apontou como maior rival.
A primeira corrida da temporada 1994 foi no Brasil, disputada em Interlagos, quando Senna fez a pole. Na corrida, Senna assumiu a ponta, mas Schumacher com a Benetton tomou a liderança depois de passar Senna nos boxes na volta 21. Senna, determinado a vencer no Brasil, errou, perdendo o controle de sua Williams e rodando na curva da Junção, ficando encalhado na zebra e abandonando a prova na volta 55.
A segunda prova foi no Grande Prêmio do Pacífico, disputado em Aida, no Japão, onde Senna novamente ganhou a pole, porém envolveu-se numa colisão já na primeira curva. Ele foi tocado atrás por Mika Häkkinen e sua corrida acabou definitivamente quando a Ferrari de Nicola Larini também bateu na sua Williams. Seu companheiro de equipe, Damon Hill, terminou em segundo enquanto Schumacher venceu novamente.
Este foi o seu pior início de temporada de F1, falhando por não terminar e em não pontuar nas duas primeiras corridas, apesar de ter sido pole em ambas. Schumacher com sua Benetton estavam liderando o campeonato com vinte pontos de diferença para Senna, que estava com zero.
Luca Di Montezemolo, diretor da Ferrari naquela ocasião, informou que Senna veio até ele na quinta-feira anterior à prova de Ímola e elogiou a Ferrari pela batalha contra os eletrônicos na F1. Senna disse também que ele gostaria de encerrar sua carreira correndo pela Ferrari.[19]
[editar] Curiosidades
- Senna manteve o recorde de maior número de poles positions (65 poles em 163 corridas) por 12 anos depois de sua morte, até que Michael Schumacher ultrapassou essa marca
- Senna detém o recorde de vitórias no Circuito de Mônaco onde venceu seis vezes
- Durante uma apresentação de uma turnê na Austrália, em 1993, a cantora Tina Turner chamou o piloto ao palco e disse que ele era "the best" (o melhor) e, então, Tina cantou a canção "Simply the Best" ("Simplesmente o Melhor"), referindo-se ao piloto, que declarou ser fã da cantora.
- Ayrton descreveu em detalhes suas chances durante uma volta de classificação no GP de Mônaco de 1988:
“ | "…a última sessão de qualificação. Eu já estava com a pole, por meio segundo à frente do segundo colocado, e depois um segundo. De repente, eu estava próximo de abrir dois segundos à frente dos outros, incluindo meu companheiro de equipe com o mesmo carro. Então eu percebi que eu não estava mais pilotando com consciência. Eu pilotava por instinto, me sentia numa outra dimensão. Era como se eu fosse entrar num túnel. Não apenas o túnel sob o hotel, mas todo o circuito parecia um túnel. Eu estava apenas indo e indo, mais e mais e mais… Eu estava acima dos limites e achava que ainda era possível buscar alguma coisa mais. Então, de repente, alguma coisa me tocou. Um tipo de despertar ao perceber que eu estava em outra atmosfera, diferente daquela que normalmente eu estava. Minha reação imediata foi a de retornar, reduzir. Eu dirigi lentamente aos boxes e não quis mais sair de novo naquele dia. Isso me apavorou porque eu estava consciente. Isso me acontece raramente, mas eu guardei essas experiências bem vivas dentro de mim porque é muito importante para a sobrevivência." | ” |
- Em maio de 1994 a banda Ramones fez shows no Brasil e o vocalista Joey Ramone dedicou essa turnê para Ayrton Senna.
- Outro grupo que homenageou Senna em dedicatória foi o Sepultura. Que dedicou a Ayrton Senna o disco Roots, lançado em 1996.
- Durante o Grande Prêmio de San Marino de 2004, dez anos após a morte de Senna, em uma série de entrevistas, Gerhard Berger, o companheiro de Senna na McLaren 1990-1992 e um amigo muito próximo, expressou o que era a qualificação para Senna:
“ | "Eu lembro de um fim de semana em Ímola em que eu fui para a pista e marquei o tempo. Ele saiu e foi um pouquinho mais rápido. Eu saí de novo e fui um pouqunho mais rápido que ele. Ele saiu e novamente foi um pouco mais rápido que eu e, daí, eu fui à frente, depois para trás — como ping pong — até o fim da qualificação. Era o último conjunto de pneus e ele estava sentado no seu carro, eu no meu, e ele saiu do carro, andou em volta do meu e disse: "Ouça, vai ser muito perigoso daqui para a frente." e eu respondi: "E daí? Vamos lá!" | ” |
- Sempre que vencia uma corrida, Senna buscava — e alguém sempre lhe entregava — uma bandeira do Brasil que ele fazia tremular durante a volta da vitória. Essa atitude tornou-se uma marca registrada do piloto, e a Prefeitura de São Paulo resolveu, em 1995, homenageá-lo com uma escultura da artista Melinda Garcia, colocada na entrada do Túnel Ayrton Senna que passa sob o Parque Ibirapuera. A obra de 5,0 m em bronze denominada "Velocidade, Alma, Emoção" infelizmente já sofreu a ação de vândalos que roubaram a bandeira. Esta peça foi desenvolvida tendo como base o carro de Fórmula 1 de Ayrton Senna, com a finalidade de cumprir uma homenagem ao ídolo em três objetivos:
- "Velocidade" — imortalizar sua passagem meteórica;
- "Alma" — apreender de forma subentendida, porém substancial, sua presença anímica e carismática;
- "Emoção" — representada pela bandeira, simbolizando a entusiasmada vibração que sacudiu a todos brasileiros, criando uma união não só nacional, mas universal.
- A partir de 1995, Frank Williams, com o intuito de homenagem, passou a exibir nos carros de sua equipe o "S" da marca Senna, na parte anterior dos F1, sobre a asa dianteira.[20]
- Um poster de Senna aparece num dos episódios do seriado tokusatsu japonês Solbrain.
- Ayrton Senna era canhoto.[21]
[editar] Piloto de pista molhada
Na F1, a corrida sob chuva é considerada um grande equalizador de carros; isto é, o piloto é quem faz a diferença. A velocidade é reduzida e a eventual superioridade de potência também fica em segundo plano. A chuva exige grande esforço e habilidade do piloto em controlar o carro. Senna era considerado o melhor de todos sob essas condições.[22]
Uma de suas táticas era de, logo no início da chuva, não trocar os pneus pelos de chuva, — a época, chamados de pneu biscoito (com sulcos) — mas manter-se correndo com pneus slick (lisos). Com isso, apesar de ser muito mais difícil manter o carro na pista, frequentemente Senna ganhava preciosos segundos à frente dos demais competidores, porque a maioria deles parava nos boxes para troca de pneus.
O GP de Mônaco de 1984 marcou a habilidade de Senna nas pistas molhadas.
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